terça-feira, 7 de outubro de 2008

Perdoar e Esquecer

Perdoar e esquecer equivale a jogar pela janela experiências adquiridas com muito custo.
Se uma pessoa nos faz algo de desagradável ou irritante, temos apenas de nos perguntar se ela nos é ou não valiosa o suficiente para aceitarmos que repita segunda vez e até de maneira mais grave.
Em caso afirmativo, não há muito a dizer, porque falar ajuda pouco.
Temos, portanto, de deixar passar essa ofensa, com ou sem reprimenda.
Todavia, devemos saber que agindo assim estaremos a expor-nos à sua repetição.

Em caso negativo, temos de romper de modo imediato e definitivo com o valioso amigo. Pois, quando a situação se repetir, será inevitável que ele faça exactamente a mesma coisa, apesar de, nesse momento, nos assegurar o contrário de modo profundo e sincero.
Pode-se esquecer tudo, tudo, menos a si mesmo, menos o próprio ser, pois o carácter é absolutamente incorrigível e todas as acções humanas brotam de um princípio íntimo, em virtude do qual, o homem, em circunstâncias iguais, tem sempre de fazer o mesmo, e não o que é diferente. (...)
Por conseguinte, reconciliarmo-nos com o amigo com quem rompemos relações é uma fraqueza pela qual se expiará quando, na primeira oportunidade, ele fizer exactamente a mesma coisa que produziu a ruptura, até com mais ousadia, munido da consciência secreta da sua imprescindibilidade.

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

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